PESSOAS INSPIRADORAS

“Todos os nossos equipamentos, que foram desenhados e desenvolvidos de raiz, são inteiramente produzidos nas nossas instalações.”

Uma conversa com David Fernández
David Fernández

No universo fascinante em que a música e a tecnologia se misturam, surge um apaixonado pelos maiores bateristas do rock e pelo céu estrelado. A sua capacidade de traduzir a complexidade técnica em soluções compreensíveis demonstra o seu compromisso não só com a inovação, mas também com a satisfação e compreensão de todos os nossos clientes.

O David recomenda…

  • Um livro: Sou mais dos clássicos. Ainda me lembro de como Vinte Mil Léguas Submarinas me colocou dentro do Nautilus. Penso que esse livro me deu a fantasia de que, quando chegar à reforma, vou ter um barco e sair para desafiar os gigantes do alto mar. A certificação em mergulho Open Water Diver já tenho. Falta-me o barco e o arpão para caçar polvos gigantes.
  • Um filme: Os meus amigos de infância não me perdoariam se eu não mencionasse aqui o filme com que tanto os massacrei. Não sei se ele era o meu alter ego nos meus sonhos, ou se realmente hoje teria gostado de ser como ele. Ganhou vários “anti-Óscares” na altura, mas para mim proporcionou dezenas de horas de brincadeiras com os amigos e frases que, 30 anos depois de o ter visto pela primeira vez, ainda estão comigo e no meu modo de vida. É isso mesmo, trata-se de As Aventuras de Ford Fairlane. Por muito mau que seja, é o melhor.
  • Uma canção: o meu calcanhar de Aquiles! É complicado, muito complicado escolher uma. A minha paixão pela música não me permite classificar estas coisas. São os Rush e nunca mais os poderei ver ao vivo. O baterista, Neil Peart, que está na minha lista dos bateristas mais influentes, deixou-nos há pouco tempo. Aquela que para mim foi a banda mais pura da história e que me fez viver tantas emoções, não voltará a subir ao palco. A sua pureza não lhes permitia tocar se não fossem eles, se não fosse aquele trio reformado em ’74. É difícil escolher apenas uma, mas com a canção Subdivisions, o tributo desta vez é para todos os que alguma vez já se sentiram marginalizados.
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Olá, David, fala-nos um pouco sobre ti. Qual é o teu cargo na Fonestar?

Olá! Apresento-me como um amante da música, dos céus e do bom som.

Sou técnico de eletrónica e há mais de 13 anos que faço parte do departamento de I&D da Fonestar, onde já desenhei inúmeros equipamentos relacionados com o envio de áudio através da rede de dados, entre outros. A minha função neste departamento tem estado relacionada com o mundo do hardware e tem passado pela montagem de protótipos PCB até à montagem final do equipamento, incluindo os testes associados.

Embora nesse departamento todos tenhamos de estar atentos à iteração das equipas com o resto do ambiente, o meu papel tem estado amplamente relacionado com o de beta tester.

Todos os nossos equipamentos são inteiramente produzidos nas nossas instalações. E uma das minhas funções, como intermediário entre I&D e o departamento de produção, é estabelecer a forma mais ágil e correta de produzir esses equipamentos, dando também apoio à produção quando necessário.

Por outro lado, também sou responsável pela reparação das placas eletrónicas do nosso equipamento.

Faço parte do departamento de atendimento ao cliente e presto assistência técnica aos clientes que estão no local e têm dúvidas sobre o equipamento.

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O que mais te agrada no teu trabalho?

Sem dúvida, ver que as coisas que fazemos saem bem. E com isto refiro-me ao que me diz respeito quando monto uma placa de protótipo para um equipamento. Às vezes, trata-se de uma fase complexa em que a mais pequena falha ou componente defeituoso pode significar muitas horas de deteção durante a fase de testes. Ver as coisas a funcionar pela primeira vez é sem dúvida o mais gratificante. E o oposto, encontrar a causa de uma avaria nas fases prévias de prototipagem, é também muito satisfatório.

Outra coisa que me tira do sério é quando a instalação de um cliente se complica com algum problema relativamente complexo, por vezes nas redes, ou outras vezes por algum espírito maligno que nos faz arrancar os cabelos e dizer “não pode ser”! Mas depois de uma boa dose de perseverança, o demónio acaba por sair para nunca mais voltar.

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Podes falar-nos da tua experiência na implementação e teste de soluções de áudio sobre IP e de como esta tecnologia está a transformar a indústria do som?

Do meu ponto de vista, todos os clientes com quem lidei mostraram grande interesse e consideraram a nossa solução de áudio sobre IP como um avanço para as suas necessidades.

Cheguei a esta empresa bastante jovem, tendo instalado PA com linhas de 100 volts em algumas ocasiões antes de entrar. Quando vim para cá, não conhecia esta forma de enviar áudio e fiquei realmente impressionado ao ver como o nosso primeiro leitor de fluxo de áudio AIP-3010 acabou por funcionar. Os anos passaram e o mercado adoptou gradualmente os sistemas de áudio baseados em IP como a principal solução. Mas, na altura, não tinha paralelo.

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As soluções de áudio sobre IP são cada vez mais populares. Quais são os desafios comuns que encontras ao testar estas tecnologias e como é que os ultrapassas para garantir um ótimo desempenho?

Os dispositivos nas redes estão a tornar-se cada vez mais complexos. Para dar um exemplo, há vários anos, os switches que eram colocados nas instalações não eram geridos. Mas, desde há algum tempo, é cada vez mais frequente serem geridos e com cada vez mais parâmetros a controlar. Nestes casos, deparamo-nos por vezes com “bloqueios” quando um destes switches desativa determinadas funções básicas para o funcionamento correto do nosso equipamento. É o tipo de coisa que não acontecia com os switches “burros”. Por conseguinte, é importante mantermo-nos atualizados sobre os tipos de equipamento disponíveis e, se necessário, adquiri-los e testá-los no laboratório, como aconteceu num caso muito recente.

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Como é que trabalhas com outros profissionais e equipas para efetuar testes de ponta a ponta de soluções de áudio sobre IP e garantir a interoperabilidade?

E foi essa a sorte que tive, de ter sempre as melhores pessoas ao meu lado e todas perfeitamente entrosadas para garantir uma total fluidez na resolução dos erros.
Foi um luxo o facto de terem sido lançadas as primeiras versões do equipamento e de grande parte das funções do equipamento terem resultado lindamente. Mas quando isso não acontece, basta-me detetar o erro, avisar um colega ou anotá-lo num chat de incidentes para, em menos de um dia, o erro ser corrigido e ter uma nova atualização do equipamento carregada para teste. Devo dizer que alguns casos foram complexos e que, por vezes, a deteção foi muito trabalhosa e caprichosa. Esses erros dão mais preguiça, mas quando são encontrados… podem imaginar a adrenalina que sentimos! Hehehe

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O atendimento ao público é essencial em qualquer cargo técnico. Como é que garantes que compreendes as necessidades dos clientes em termos de áudio sobre IP e como é que traduzes os seus requisitos em testes específicos para garantir a satisfação do cliente?

É preciso começar sempre pelo princípio. Quem é que nunca ficou irritado quando, após ligar para uma operadora de Internet, a primeira coisa que perguntaram foi… tem o router ligado?

Neste caso, não chegámos a esse ponto, de forma alguma, mas quando se trata de equipamentos com base em IP, há muitas infraestruturas à volta e, para evitar possíveis aborrecimentos, é aconselhável começar logo pelas perguntas básicas. Coisas como se o equipamento tem um IP fixo ou dinâmico, se tem um router com um servidor DHCP ativado, ou se o equipamento está separado por vários switches, podem dar muitas pistas que, se não perguntarmos, podem implicar passar depois muito mais tempo a dar voltas. Por outro lado, os clientes com mais conhecimentos nestas áreas compreendem issno perfeitamente e até agradecem.

“Muitas vezes não podemos aplicar nos equipamentos tudo o que há de novo no mercado, senão nunca mais acabamos de desenvolver a solução original.”

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Podes partilhar um exemplo de um problema técnico complexo que tenhas resolvido ao testar uma solução de áudio sobre IP e qual a tua abordagem?

Claro. Lembro-me de um caso que me prendeu ao telemóvel durante bastante tempo. Uma vez, enquanto falava com um instalador que estava numa escola a instalar equipamento AIP, aconteceu-lhe algo que nenhum de nós poderia ter imaginado. Por um lado, tinha testado os equipamentos no seu laboratório antes de os levar para a escola. Mas depois na escola, ligava-os a um switch e não os via. Em primeiro lugar, depois de efetuar as verificações típicas e de continuar a não conseguir ver os equipamentos na aplicação, só faltava verificar se estavam ativas as permissões da firewall do Windows para defender as ligações TCP e UDP dos equipamentos. Como se tratava de um PC de uma escola pública, o administrador tinha bloqueado o acesso à firewall, pelo que foi necessário experimentar com outro PC. Quando se verificou que era esse o motivo, o instalador retirou o switch ao qual tinha ligado todos os equipamentos e ligou o cabo ethernet desse PC a uma roseta e um equipamento AIP a outra tomada mesmo ao lado. O equipamento voltou a ficar invisível. Quando verificámos se faziam “ping”, vimos que também não, mas os IPs adquiridos pelos computadores pareciam estar na mesma subrede. Vou inventar, mas um podia ter o IP 192.168.1.120 e o outro 192.168.1.34.

Depois de muito tempo, acabei por descobrir que os gateways destes equipamentos eram diferentes, e que cada roseta pertencia a dois routers diferentes e a duas linhas de rede separadas, cada uma de um ISP diferente. Por acaso os routers tinham IP diferentes, porque podiam muito bem ter o mesmo e o mais provável é que eu fosse acabar com um eczema.

Os piores erros acontecem quando vários casos se juntam e o nosso equipamento passa despercebido, mas este tinha o bónus de algo que nenhum de nós esperava. É possível que este tipo de trabalho de deteção também se torne mais complicado ao telefone, e às vezes parece que estamos a andar às escuras.

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Como é que garantes a manutenção de registos detalhados e completos dos testes que efetuas e como é que estas documentações beneficiam tanto a tua equipa como os clientes?

O ABC de todo o desenvolvimento de equipamento envolve a elaboração do chamado “Changelog“. Internamente, temos um conjunto de procedimentos para registar os testes que efetuamos, mas o ficheiro que detalha quais foram as alterações ou melhorias em cada atualização é o Changelog. Podemos elaborar um mais pormenorizado para nós internamente, mas o que é publicado na Web é mais resumido e simplificado.

Embora seja verdade que não é muito comum um cliente ler o Changelog, já aconteceu por vezes um instalador ter conhecimento das alterações no Changelog e falar-nos delas em conversa por telefone. A vontade de resolver um caso às vezes leva-nos a fazer coisas tão desesperadas como ler um triste Changelog! Hehehe

No nosso caso, é fundamental saber em que momento se mexeu em algo que poderia estar relacionado com um possível erro atual e que, por alguma razão, não ocorreu antes.

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A tecnologia está em constante mudança. Como é que te manténs a par das últimas tendências e desenvolvimentos no domínio das soluções de áudio sobre IP e como é que aplicas esses conhecimentos no teu trabalho diário?

Antes de mais, isto acontece tudo muito rápido às vezes. Estamos sempre a ler artigos ou revistas onde descobrimos novas tecnologias, embora seja verdade que muitas delas são úteis para saber que existem, que estão lá e que são uma opção. Muitas vezes não podemos aplicar nos equipamentos tudo o que há de novo no mercado, senão nunca mais acabamos de desenvolver a solução original. Por isso, é preciso saber focar no objetivo, escolher aquela que acreditamos que trará o maior valor acrescentado ao mercado e trabalhar nela e aperfeiçoá-la.

Outro aspeto, por exemplo, como já referi no caso particular dos switches, é o aparecimento de novas normas que tenham a ver com o tratamento do tráfego que os equipamentos utilizam. Neste caso, convém estar atualizado para não ser apanhado desprevenido quando começarem a ser utilizados no mercado. Ler sobre as novas funcionalidades dos routers, switches e os demais elementos de uma rede, e dedicar algum tempo a perceber o seu significado será sempre uma ajuda no futuro.

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Por último, podes partilhar alguns conselhos para quem tem interesse em trabalhar na área das soluções de áudio sobre IP, com base na tua experiência e no teu sucesso pessoal?

A minha recomendação pessoal é não ter medo dela. Uma das razões pelas quais muitas pessoas no mundo tradicional do PA (linha de 100V, baixa impedância, etc…) podem não utilizar esta solução nas suas instalações é o facto de associarem a tecnologia IP a algo muito intangível e complexo.

O meu conselho é que, se tiverem curiosidade, comprem um router neutro por 15 euros, coloquem um PC numa das suas portas, um dispositivo que funcione por IP noutra porta e depois pirateiem-no em casa.

No YouTube existem inúmeros cursos que em poucas horas explicam os conceitos básicos para compreender a comunicação entre dispositivos através deste protocolo.

Da mesma forma, na Fonestar dispomos de um plano de formação totalmente gratuito chamado Fonestar Academy, no qual um dos seus módulos aborda o tema das redes, dando as pinceladas básicas e necessárias para poder colocar em funcionamento os nossos equipamentos AIP e, em geral, para poder compreender qualquer dispositivo que funcione sobre IP.